11 de abr. de 2011

O Canto Coral Luterano e os 250 anos sem Bach




Antes de mais nada, precisa-se dizer que até a reforma luterana a comunidade que se reunia em culto não podia cantar nada além do refrão Kyrieleis (Tem piedade de nós Senhor).Sócantavam no culto os coros de religiosos (padres, monges e aspirantes) que cantavam em línguas que o povo não entendia. Também o culto era todo feito em latim e a comunidade não entendia quase nada do que estava acontecendo no culto. 
 
Lutero estava convicto de que o povo precisava entender o que se dizia no culto, por isso ele passou a celebrar cultos na língua do povo (no caso dele a língua alemã). Lutero também traduziu a Bíblia para o alemão, para que o povo pudesse ler o que ali estava escrito (até então só os religiosos que estudavam Latim, Grego e Hebraico tinham acesso ao testemunho bíblico). E junto com a reforma do culto Lutero e os seus companheiros começaram, logo, a compor hinos que o povo pudesse cantar, com a ajuda do coro. Assim como é importante que a comunidade possa ler a Bíblia, assim também é importante que, com a ajuda do canto, a comunidade aprenda e possa expressar a sua fé. Por isso os músicos evangélico-luteranos dão muita atenção para o texto dos seus cantos e não querem que eles tenham só uma melodia bonita, mas também um bom conteúdo. Dessa forma, do meio luterano surgiram grande músicos que se preocuparam em louvar a Deus por meio de sua música.

Lembramos especialmente de um destes grandes músicos evangélico-luteranos; há 250 anos falecia Johann Sebastian Bach (1685-1750). Bach transmitia o Evangelho por meio de suas músicas; meu pai me disse certa vez que Bach é o quinto evangelista, tal a importância de sua obra. Talvez muitos de vocês conheçam J. S. Bach por terem ouvido “Jesus alegria dos homens”, um de seus corais mais conhecidos. Também a melodia do hino de Paul Gerhardt “Ao pé da manjedoura estou” (HPD-26) é de Bach.

Para a gente conhecer melhor Johann Sebastian Bach nada melhor do que ouvir o que Anna Madalena, sua segunda esposa, disse sobre ele:

“Meu marido era um homem difícil de se conhecer. Se desde o primeiro instante eu não o tivesse amado, certamente nunca o teria compreendido. Muito reservado, não se dava a conhecer por palavras, mas pela sua atitude e, naturalmente, pela sua música. Eu nunca tinha visto um homem tão religioso (...). No fundo de seu grande coração ele trazia sempre a imagem do Crucificado, e a sua música mais elevada é o grito desse desejo da morte que lhe dava a visão do seu Senhor ressuscitado”.

Nessa descrição podemos conhecer um homem que procurou viver a sua fé no dia-a-dia e anunciá-la por meio de sua música. Sua inspiração esteve na cruz de Cristo, no amor incomparável de Deus por nós.

Bach via na música um forte meio de celebrar a fé e de dar glória a Deus; era um luterano convicto, profundamente religioso, e como tal não admitia celebração sem canto. Nos hinos e corais que ele compunha sempre escrevia no pé da página “Soli Deo Gloria” – Somente a Deus seja dada a Glória. Bach tinha de compor uma cantata para cada domingo do ano da Igreja e fazia isso depois de ter estudado o texto bíblico sobre o qual o pastor iria pregar. Bach também foi um dos primeiros regentes de coro que tinha em seu coral uma mulher e isso uma vez lhe custou o emprego (até então só existiam coros de meninos e homens). Também é interessante saber que um músico hoje tão famoso como Bach não freqüentou a universidade, ao contrário da maioria dos seus colegas.

O último coral que Bach, bastante adoentado, ainda ditou a um dos seus alunos, aos 65 anos, tem o título: “Senhor, Eis-me Diante do Teu Trono”.

Com Lutero e Bach nós podemos nos alegrar e orgulhar pela bonita história da música e da tradição do canto coral que, assim como o conhecemos hoje, teve seu início no meio evangélico-luterano. O coral tem seu espaço no culto de nossas comunidades como facilitador da música. Em nossa Igreja o coral não está aí só pra cantar sozinho a mais vozes, mas fundamentalmente para ajudar a comunidade a cantar, ensinado e acompanhando-a em seu canto.

P. Claus Martin Dreher

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